Saindo da caverna

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Conheça Beatriz Piffer, carinhosamente conhecida como “Bia” pela comunidade escolar. Titular das aulas de sociologia, filosofia e teoria do conhecimento (TOC) para estudantes do ensino médio na ESB Rio de Janeiro

Durante muitos anos, um professor de filosofia costuma repetir à exaustão o mito da caverna. Prisioneiros, nascidos acorrentados dentro de uma caverna, pensam que vivem a única realidade possível: sombras projetadas e sons distorcidos. Um dia, um deles é libertado e traz a notícia aos demais: estávamos enganados, existe uma outra realidade - a verdadeira. Sempre imagino que o prisioneiro liberto funciona como uma espécie de professor, que tenta iluminar o caminho para que os demais também possam acessar a nova realidade. Tenho bastante afinidade com a ideia de que todo educador tem o privilégio de já possuir sua lanterna, que facilita a saída da caverna.

Não é incomum que ocorram discussões em sala de aula em que valores entrem em um conflito aparentemente insolúvel. Acredito que o professor não tenha a função de se posicionar, mas apenas de trocar o foco: tirar a importância da discussão vazia e dar protagonismo à escuta. Não há como formar um cidadão para o mundo sem que este consiga entender que O OUTRO não precisa carregar o peso do antagonismo. Somos sempre um OUTRO também, basta uma mudança de referencial. O resultado das aulas em que dedicamos à escuta, mesmo ao que possa parecer absurdo, é sempre positivo.  Não se trata de mudar de valores, afinal, a minha tarefa não deve prezar por conteúdos, mas pelo estímulo ao debate. Pensar valores não significa eleger valores, mas sim construir critérios para que os alunos se tornem cidadãos capazes de compreender a alteridade.
 

Valores como lanternas

Por isso, a educação focada em valores funciona como esta lanterna acesa que possibilita a formação integral do aluno, possibilitando que ele desenvolva um olhar para si e para o outro, de forma a compreender a multiplicidade de olhares.
 

A consciência de que temos uma visão parcial do mundo é o maior passo em direção à formação de um ser humano dotado de valores capazes de construir uma sociedade menos atravessada pela nocividade dos preconceitos.  O perigo de uma história única é o perigo da parcialidade travestida de verdade, uma espécie de escuridão que todo educador comprometido com a construção de valores precisa buscar iluminar tal qual a lanterna do prisioneiro liberto de Platão. 

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