Durante muitos anos, um professor de filosofia costuma repetir à exaustão o mito da caverna. Prisioneiros, nascidos acorrentados dentro de uma caverna, pensam que vivem a única realidade possível: sombras projetadas e sons distorcidos. Um dia, um deles é libertado e traz a notícia aos demais: estávamos enganados, existe uma outra realidade - a verdadeira. Sempre imagino que o prisioneiro liberto funciona como uma espécie de professor, que tenta iluminar o caminho para que os demais também possam acessar a nova realidade. Tenho bastante afinidade com a ideia de que todo educador tem o privilégio de já possuir sua lanterna, que facilita a saída da caverna.
Não é incomum que ocorram discussões em sala de aula em que valores entrem em um conflito aparentemente insolúvel. Acredito que o professor não tenha a função de se posicionar, mas apenas de trocar o foco: tirar a importância da discussão vazia e dar protagonismo à escuta. Não há como formar um cidadão para o mundo sem que este consiga entender que O OUTRO não precisa carregar o peso do antagonismo. Somos sempre um OUTRO também, basta uma mudança de referencial. O resultado das aulas em que dedicamos à escuta, mesmo ao que possa parecer absurdo, é sempre positivo. Não se trata de mudar de valores, afinal, a minha tarefa não deve prezar por conteúdos, mas pelo estímulo ao debate. Pensar valores não significa eleger valores, mas sim construir critérios para que os alunos se tornem cidadãos capazes de compreender a alteridade.
Valores como lanternas
Por isso, a educação focada em valores funciona como esta lanterna acesa que possibilita a formação integral do aluno, possibilitando que ele desenvolva um olhar para si e para o outro, de forma a compreender a multiplicidade de olhares.